Como boa brasileira, adoro voltar às raízes e retornar à finalidade primeira deste blog, fazendo jus ao seu nome. Afinal, e antes de tudo, isso é um Diário de Bordo. Então contarei um pouco das minhas mais recentes experiências em Washington D.C., a capital dos United States of America.
Primeira Missão
Aterrissei no Ronald Reagan sexta-feira, às onze e meia de uma manhã ensolarada e sob o efeito caótico de cólicas galopantes, vários buscopans e um esplendoroso céu azul. De todos os motivos que me levaram a Washington, o primeiro (e oficial) era o Seminário de Agenda da Georgetown University (SAGU), sobre Práticas de Ensino de Português como língua estrangeira. Principalmente agora que terminei o mestrado e fui formalmente contratada pela UNC, sinto-me mais motivada a participar de tais eventos. Além de conhecer pessoas (e aprender coisas) novas, estas conferências são oportunas desculpas para simplesmente sair da rotina, relaxar, botar o pé na estrada e desvendar novos horizontes.
Segundas Intenções
Como diz meu nobre amigo Zé Ivan, a Xanda tem que chegar chegando. Sabendo já de antemão que na Georgetown University está Bryan McCann -- autor do melhor estudo já feito sobre a institucionalização do samba no Brasil -- resolvi entrar em contato com ele e tentar marcar um encontro. Sempre muito atencioso, respondeu-me prontamente dizendo que teria um tempinho na sexta-feira à tarde. Então daria certo pra eu chegar no hotel, desbravar um pouco os arredores da Universidade e visitá-lo antes da conferência começar, às 6 da tarde. É óbvio que minha visita destilava terceiras intenções. Georgetown poderá vir a ser um dos meus paradeiros futuros, afinal esta é uma das instituições que me interessam para o PhD. Neste caso, é sempre melhor estabelecer contatos prévios, evitando assim ser apenas um mais nome em meio muitos nomes num monte de papel.
O Seminário
Rendeu muito. Menos formais e competitivos do que conferências de história, seminários de ensino de língua são eventos de colaboração acadêmica. Todo ano, professores de português atuando nos Estados Unidos reúnem-se para discutir e pensar o ensino da língua. Vem gente de tudo quanto é canto pro SAGU, mas a maioria dos professores era de lá. Davam aula em escolas e universidades, travalhavam em ONGs, nas embaixadas, dando aula pra diplomata, políticos, empresários. Estamos construindo um momento histórico da profissão. Nunca antes na história desse país o português brasileiro esteve tão em voga! Agora é a hora de aproveitar e aperfeiçoar isso.
Há sempre uma primeira vez...
No SAGU tive a oportunidade de conhecer o Professor Dr. José Carlos Paes de Almeida Filho, um dos lingüistas mais atuantes na área de PLE (Português como língua estrangeira). No sábado à noite, depois de um dia inteiro de aulas, palestras e apresentações, houve uma confraternização com quitutes e vinhos deliciosos. Fiquei muito emocionada pois pela primeira vez ganhei um sorteio. O prêmio, um livro do Dr. Zé Carlos.
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Com o autor do livro: Prof. Dr. Zé Carlos Paes de Almeida Filho |
P.S.: O contraste de usar o título de doutor e o apelido Zé Carlos foi proposital, pra traduzir a aura hierárquica e a informalidade do professor. Embora um fodão na sua área, ele é um ser humano incrível. Simples, simpático, atencioso, muito brilhante e muito humilde. Enfim, creio serem essas as características de um ser realmente sábio. Afinal, ser inteligente é fácil, mas ser inteligente sem ser babaca é que são elas...
Lá também conheci uma garota de Paranaguá, a Daniele. Incrível como ela tinha cara de curitibana, e mais que isso, cara de Daniele! Morena, bonita, com os olhos levemente puxados e um sotaque que deu saudades de casa (e do meu hall de Danis). Mas olha que incrível, ela dá aulas para a força aérea americana! Aliás, você sabia que há uma proliferação de bases aéreas norteamericanas no Brasil? Por que será hein, eu me pergunto. E o marido dela tem uma churrascaria brasileira. Pena que eu não fui comer lá... mas se há sempre uma primeira vez, então na próxima, com certeza.
Georgetown, Washington D.C. e seus Monumentos Nacionais
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Georgetown University: prédio que vemos da entrada principal. |
O distrito de Georgetown, onde fica a Universidade, é um setor antigo e de arquitetura extremamente europeia. Tem casas ali que datam de mil e seiscentos e bolinhas. A Universidade foi fundada em 1789, sendo a mais antiga instituição jesuíta dos Estados Unidos. Apesar de antigos, os prédios estão muito bem conservados e limpos. Com seus sobrados coloridos, calçadas de tijolos, ruas de paralelepípedo (e ainda mais agora que as casas e os postes estão enfeitados com guirlandas e luzes de Natal,) Georgetown é um distrito muito charmoso. Vale a pena conhecer.
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Abraham Lincoln: o homem que aboliu a escravidão e garantiu que os Estados fossem unidos. |
Como esta foi minha primeira visita a Washington D.C., não poderia deixar de conhecer aqueles pontos turísticos mais manjados, como o Memorial do Lincoln, a Casa Branca, o Arquivo Nacional, a Biblioteca do Congresso, o Obelisco, e os museus que ficam nos parâmetros do que eles chamam de "National Mall." O nome não mente. O passeio é de fato uma vitrine a céu aberto que exacerba e escancara a grandiosidade do nacionalismo americano.
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Water Mirror e Washington Monument fotografados do Lincoln Memorial |
Deslumbrada com a beleza e o zelo com que eles tratam seus monumentos nacionais, comecei a caminhada pelo Lincoln Memorial. De lá se tem uma vista maravilhosa da piscina que eles chamam de Water Mirror, do Obelisco, e do U.S. Capitol, onde republicanos e democratas se reúnem desde 1800 para tomar as decisões mais importantes do país.
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U.S. Capitol Building |
O parque é repleto de memoriais: além do Lincoln, tem o memorial da Guerra da Coréia, da guerra do Vietnam, o Roosevelt Memorial, Martin Luther King Memorial, Thomas Jefferson Memorial, é monumento que não acaba mais, todos às margens do Rio Potomac... foram bem uns cinco quilômetros de caminhada.
Dos oito museus visitei apenas o National Gallery of Art, onde pude contemplar as obras dos grandes artistas do impressionismo e do modernismo europeus, além de conferir, na ala de arte contemporânea, uma mostra maravilhosa das gravuras e colagens de Roy Lichtenstein.
Go Home! I wanna go home!
Viajar, conhecer cidades novas, sentir os ritmos e pulsações e as diferentes urbanidades, seus sotaques e até mesmo suas tensões raciais, que parecem ser mais evidentes na cidade grande, é sempre muito interessante. Mas voltar pra casa não tem preço. Depois de conhecer mais e tanto admirar a cultura patriota americana, e descobrir outras facetas étnicas e raciais que se enredam formando este tecido social diversificado de Washington (o que lhe confere um constraste que poderíamos chamar de bairrismo cosmopolita) foi bom chegar em casa e descansar ao lado de mabeibe. Enfim, não há melhor lugar que o nosso lar, que os braços, abraços, beijos e sorrisos do meu amor, que foi me buscar e depois preparou um jantar delicioso com picanha ao alho... mmmm... mabeibe is awesome.
2 comentários:
Pandinha linda!
Hoje estou desinspirado! Bom que você gostou e aproveitou a viagem e já conseguiu estabelecer os teus primeiros contatos por lá.
E só uma curiosidade - difícil acreditar que um sujeito como Lincoln era republicano! Mudou tanto assim o partido?
Beijos do Sogrão
Sim, sogrão! Mas na minha opinião, mudaram os dois partidos. Os democratas foram o grande estorvo para Lincoln pois eram eles que relutavam em abolir a escravatura. Quem esperaria isso de democratas?!
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