que nos contém.
É côncava, e escura, e morna, e silenciosa,
se dobra nas cortinas onde se aninha a sombra,
é dura no espelho, e tensa, e congelada,
profunda nas almofadas, e nos lençóis da cama, branca.
Nós dois sabemos que a morte toma
a forma da alcova e que, na alcova,
é o espaço frio que levanta
entre nós dois um muro, um cristal, um silêncio.
Então só eu sei que a morte
é o eco deixado no leito
quando de súbito e sem razão alguma
te incorporas e te pões de pé.
E é o ruído das folhas calcinadas
que fazem teus pés desnudos ao fundirem-se na grama.
E é o suor que molha nossas coxas
que se abraçam e lutam e que, logo, se rendem.
E é a frase que deixas cair, interrompida.
E a pergunta minha que não ouves,
que não compreendes ou que não respondes.
E é o silêncio que cai e te sepulta
quando velo teu sono, e o interrogo.
E sozinho, somente eu sei que a morte
é tua palavra trunca, teus gemidos estranhos
e teus involuntários movimentos obscuros
quando no sonho lutas com o anjo do sonho.
A morte é tudo isso e mais que nos circunda,
e nos une e separa alternadamente,
que nos deixa confusos, atônitos, suspensos,
como uma ferida que não verte sangue.
Então, e só então, nós dois sozinhos sabemos
que não o amor, mas a escura morte
nos precipita a ver-nos cara aos olhos,
e a nos unirmos e nos estreitarmos, mais do que sós e
náufragos,
Ainda mais, e cada vez mais, ainda.
Créditos: "Nocturno de la Alcoba" do poeta e dramaturgo mexicano Xavier Villaurrutia (1903-1950), traduzido por Xanda Lemos. A foto que ilustra o texto é do blog do Ricardo Manieri.
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